Internet: ferramenta de controle social ou da sociedade de controle?

Na Internet, pode-se afirmar que tudo se vê e que todos se vêem, isto é, todos vêem tudo e todos vêem a todos, todos estão conectados a tudo e a todos, todos têm acesso, com relativa facilidade, aos dados sobre tudo e sobre todos, o que nos leva a concluir que a grande rede pode gerar um efeito duplo, em duas direções contrárias:

O controle social 

Por um lado, serve para as pessoas exercerem ou ampliarem o exercício do controle (aqui entendido como fiscalização, controle público) das instituições, sejam elas governamentais ou empresariais, no sentido de cobrar maior transparência nos seus atos, com a disponibilização na rede de informações específicas a qualquer cidadão, consumidor ou usuário daquele serviço, produto, etc. Nesse caso, a Internet é utilizada positivamente pela sociedade civil como um instrumento para assegurar uma relação mais aberta e transparente com tais instituições (na prestação de contas públicas, por exemplo).

Trazendo essa concepção para o universo do jornalismo – mais precisamente, para a blogosfera –, um bom exemplo concreto é a atuação dos assim-chamados “jornalistas de pijama” e de tantos outros indivíduos que, tornando-se sujeitos do processo de produção jornalística, dedicam-se a fazer um bom trabalho de acompanhamento / fiscalização / investigação constante de várias instituições sociais (inclusive, da própria imprensa), publicando regularmente informações bastante confiáveis e de interesse público, que muitas vezes incluem denúncias de equívocos ou irregularidades cometidas por essas entidades.

Sociedade de Controle

Ao mesmo tempo, a Internet pode ser apropriada exatamente por tais instituições como uma ferramenta para se exercer ou intensificar o exercício do controle (aqui já entendido como “monitoramento”) sobre os indivíduos de modo geral, dentro daquilo que se pode chamar de “sociedade de controle”. O conceito foi explorado por pensadores como Michel Foucault e Gilles Deleuze, que, em sua obra “Post Scriptum sobre as sociedades de controle“, analisou a transição, segundo ele iniciada no pós-guerra, do que seria, até então, uma sociedade disciplinar, para a suposta sociedade de controle. Nesta, as instituições do tipo “portões fechados” que caracterizavam a primeira, erguidas pelo Estado a fim de manter os indivíduos sob um estado de vigília permanente, seriam substituídas por um novo sistema de controle social, agora não mais baseado em espaços fechados e compartimentados de fácil apreensão, e sim diluído numa rede de abrangência global, espalhado entre os diversos nós da rede. De acordo com esse pensamento, a Internet funcionaria exatamente como o mais sofisticado dispositivo de controle social.